terça-feira, 29 de abril de 2008

Aldolphe Mouron Cassandre


“Um cartaz, diferentemente de uma pintura, não é e nem deve ser, um objeto concebido para satisfazer uma demanda específica de determinado amante das artes. Ele é um objeto produzido em série, que possui milhares cópias, assim como uma caneta ou um automóvel. Da mesma forma, o cartaz é feito para satisfazer determinadas necessidades materiais, e deve ter uma função comercial. Eu não preciso destacar que minha principal e constante preocupação é a de me reinventar sempre. Muitas pessoas bem intencionadas me pedem para fazer cartazes no estilo de “Au Bucheron” como se eu estivesse livre para dar continuidade a um estilo de design uma vez que este possui boa aceitação e já está estabelecido! Tais reproduções estão fora de questão. Além disso, seria uma forma de suicídio do artista. Cada cartaz é uma nova experiência, ou uma nova batalha para se lutar. O sucesso não vem para o artista que tenta convencer por meio de palavras suaves, mas para aquele que o faz de forma violenta.”

A. M. Cassandre

(traduzido de http://www.cassandre.fr/)


Considerado por muitos críticos como o mais brilhante cartazista francês de sua época, Aldophe Mouron Cassandre viveu entre 1901 e 1968. Pode-se dizer que Cassandre começou sua carreira aos 14 anos como pintor, mas ficou mundialmente conhecido por seu trabalho com design gráfico na produção de cartazes e criação de tipografias. E é isso que lhe permite fazer as reflexões acerca desse trabalho no trecho citado acima. É interessante notar o modo como vê o design gráfico (“satisfazer necessidades materiais, e deve ter uma função comercial”), que além de bastante atual não o separa do fazer artístico.






O cartaz ao qual se refere, foi feito para a loja parisiense de móveis “Au Bucheron” , que significa “O lenhador”. Neste trabalho, Cassandre explora o nome da loja e o material de que são feitos seus produtos. As linhas diagonais, marcantes na imagem, podem ser vistas em vários de seus trabalhos e em de outros artistas do período. É uma imagem forte e expressiva de um lenhador em que se pode notar influências cubistas (geometrização das formas) e fauvistas (cores fortes e contrastantes). Nota-se também a presença de uma forma de um degradé que posteriormente também fez parte dos principais trabalhos de seus contemporâneos, e que hoje é considerado como característica da Art Déco.



Apesar de Cassandre negar a continuidade de um estilo de design previamente estabelecido, pode-se observar algumas características que marcam sua produção. O forte trabalho que faz com a tipografia e a forma como explora as letras e palavras é um bom exemplo disso. Em “Au Bucheron” (1923), a idéia explorada é a do nome da loja.


Em “Dubonnet”(1932), a palavra também é seu ponto de partida. “A idéia de satisfação vai se desenvolvendo à medida que o nome da bebida é articulado: DUBO (du beau, bonito, belo, agradável); DUBON (du bom, bom); DUBONNET (o nome completo, o homem completo, e a garrafa reaparece para tornar a encher o copo).” ¹


O cartaz criado para o aperitivo Pivolo também ilustra essa idéia. Este trabalho “teve origem no nome do produto – uma representação fonética de Et puis vole haut , um comando dado aos pilotos em fase de treinamento e que sugeriu ao artista a frase Pie vole haut (“a pega voa alto”). Por isso, essa ave tornou-se o motivo central do trabalho". ” ²





A industrialização e urbanização foram recorrentemente representadas nos trabalhos de Cassandre. É possível notar diversos ícones que remetem a essas idéias em seus cartazes, como a máquina a vapor e engrenagens. As linhas retas lembram a precisão de um objeto feito pela máquina.

¹ HOLLIS, Richard Design gráfico uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
² idem

Fontes de pesquisa:




http://www.cassandre.fr/
www.adcglobal.org/archive/hof/1972/?id=296
http://www.alquimiadigital.com.br/vosnier/text.htm

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